Hannya (般若) é uma máscara japonesa usada no teatro Noh, representando uma mulher tomada pela inveja e pelo ressentimento, que se transformou em demônio. O nome ‘Hannya’ é uma referência ao termo budista Prajñā, que traduz-se como ‘sabedoria’ ou ‘percepção’. Esta rica tapeçaria de história, arte, religião e emoção humana é o tema central deste artigo. Embarcaremos numa viagem profunda ao mundo de Hannya, investigando suas origens, simbolismo, design, fabricação, uso no teatro Noh e relevância na cultura contemporânea.
Origens e Significado de Hannya
As origens do Hannya estão enraizadas no budismo e na cultura japonesa. Na tradição budista, ‘Prajñā’ é a sabedoria que leva ao estado de iluminação e que permite a compreensão do vazio. Contudo, a máscara Hannya apresenta uma interpretação peculiar e quase paradoxal desse conceito, retratando uma mulher que foi consumida pela obsessão e que se tornou um demônio (Oni).
O Hannya é uma representação simbólica da fúria feminina, desespero e ciúme intenso. No contexto do teatro Noh, as máscaras Hannya são geralmente usadas para retratar mulheres que foram transformadas em demônios devido a obsessões ou desgostos intensos. Acredita-se que essas mulheres tiveram um amor tão forte que, quando não correspondido ou perdido, consumiu-as e transformou-as em criaturas de ódio e tristeza.

Design e Fabricação de Hannya
O design do Hannya é bastante único, com características distintas que o diferenciam de outras máscaras do teatro Noh. O rosto é branco, muitas vezes tingido de vermelho ou verde para indicar o grau de ciúme ou raiva do personagem. Possui dois chifres pontiagudos, dentes afiados e olhos penetrantes que expressam a dor do personagem.
A fabricação de uma máscara Hannya é uma arte meticulosa que requer um alto grau de habilidade e experiência. Os mestres artesãos, chamados de Noh-men-shi, levam vários meses para criar uma única máscara. A madeira, normalmente cipreste japonês (Hinoki), é cuidadosamente esculpida, polida e pintada à mão. O resultado é uma obra de arte sofisticada e detalhada que é tão expressiva quanto funcional.
Hannya no Teatro Noh
O teatro Noh é conhecido por sua estilização e lentidão, com atuações que combinam elementos de dança, música, poesia e drama. As máscaras, como a Hannya, desempenham um papel fundamental no teatro Noh, permitindo que os atores transmitam uma gama de emoções e personagens.
Os atores de Noh treinam durante anos para dominar a arte de expressar emoções através dessas máscaras inexpressivas. A inclinação da cabeça e a iluminação desempenham papéis cruciais na transmissão do estado de espírito do personagem. Quando inclinada para baixo, a máscara Hannya pode expressar tristeza ou melancolia, mas quando levantada, ela revela uma expressão furiosa ou ameaçadora.
Hannya na Cultura Contemporânea
Embora a máscara Hannya tenha suas raízes no teatro Noh, seu impacto estende-se muito além do palco. De tatuagens a mangás, filmes e videogames, a imagem da Hannya infiltrou-se em várias formas de expressão cultural contemporânea.
No Japão moderno, a Hannya é frequentemente usada em tatuagens Irezumi, representando um demônio feminino que serve como um poderoso amuleto contra o mal. No cinema e nos animes, personagens com atributos Hannya são usados para retratar mulheres poderosas e vingativas, enquanto nos videogames, os boss de nível Hannya são sinônimos de desafios temíveis.
Conclusão
A máscara Hannya é mais do que apenas uma peça de teatro; é um símbolo profundo que combina elementos da cultura, história, religião e psicologia humana. É uma expressão tangível da angústia humana, um lembrete do poder das emoções e da capacidade de transformação que elas possuem.
Em toda a sua beleza assustadora, a máscara Hannya continua a fascinar e a inspirar, testemunhando o talento dos artesãos, a habilidade dos atores do Noh e a rica tapeçaria da cultura japonesa. Ela serve como um elo com o passado e, em sua relevância contínua na cultura popular, um vínculo com o presente e o futuro. A máscara Hannya, em todas as suas complexidades, permanece como uma força inegável na cultura japonesa, sua história ainda sendo escrita e reescrita, permanecendo sempre relevante, sempre intrigante.